quinta-feira, 5 de junho de 2014

De olho na Alemã

A Justiça alemã investigará a espionagem da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês) contra a chanceler Angela Merkel, revelada pelo ex-técnico do órgão, Edward Snowden, segundo anunciou ontem o procurador-geral alemão Harald Range. Range informou que há dados suficientes para avançar com uma investigação oficial. "Investigações preliminares extensivas produziram evidência factual suficiente de que oficiais não identificados de inteligência dos EUA grampearam um telefone celular da chanceler Angela Merkel", aponta um comunicado do gabinete de Range. A investigação será feita contra "pessoas não identificadas" em vez de especificamente contra a NSA. Range disse que não abrirá uma investigação sobre a espionagem das chamadas telefônicas de milhares de alemães, também revelada por Snowden. 

Em 2013, quando Snowden revelou o sistema de vigilância das conversas telefônicas e através da internet dos alemães, inclusive do telefone celular da chanceler, durante vários anos, as relações entre Estados Unidos e Alemanha ficaram abaladas. Pouco depois da denúncia das escutas, Obama pediu desculpas a Merkel e garantiu que elas não se repetiriam. Os sociais-democratas (aliados de coalizão dos conservadores de Merkel) e a oposição (Verdes e a esquerda radical Die Linke) criticaram a decisão de limitar a investigação às escutas da chanceler. "O principal crime alvo de discussão era o da espionagem em massa" contra cidadãos alemães, reagiu o deputado Hans-Christian Strobele, dos Verdes. 

A Alemanha lançou em abril uma comissão de investigação para determinar em que medida os cidadãos e políticos foram alvos da NSA, e se os serviços secretos alemães estavam cientes disso. Alguns legisladores alemães pediram que Snowden fosse convidado a Berlim para depor no inquérito parlamentar, mas o governo rejeitou a ideia, temendo que isso prejudicasse ainda mais as relações bilaterais. Através de Snowden, descobriu-se que a espionagem da NSA atingiu entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia e chefes de Estado e governo, como a chanceler Angela Merkel e a presidente Dilma Rousseff. 

Além da mandatária, a Petrobras também foi espionada pela agência. Após a descoberta, Dilma cancelou uma visita de Estado a Washington e apresentou, junto com a Alemanha, uma resolução na Assembleia Geral da ONU pedindo uma revisão mundial da espionagem. O texto foi aprovado em novembro passado. No entanto, o Brasil não propôs até agora uma investigação na Justiça. A CPI da Espionagem do Senado terminou em abril sem identificar responsáveis, tampouco sem apontar quem foram os principais alvos e objetos da vigilância feita pelo governo dos EUA. Quando Merkel visitou o presidente Barack Obama em maio, repórteres perguntaram se a confiança foi restabelecida . Ela respondeu apenas: "temos algumas dificuldades a superar".

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