As eleições presidenciais
representam um bônus para a economia brasileira e
não um ônus, como no passado. Dias
após a oficialização das candidaturas ao
Palácio do Planalto, o presidente
do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, tem uma
avaliação otimista sobre a economia
e diz acreditar que o investimento ganhará
importância como motor da atividade
em 2015, independentemente do resultado
das urnas. Ele assinala, porém, que
o Brasil precisa mostrar "capacidade de
entrega". Estrangeiros,
argumenta, estão aguardando para ver a capacidade do
Brasil de executar suas políticas.
Em Londres para receber, pelo terceiro ano
consecutivo, o prêmio de melhor
banco no Brasil, concedido pela Euromoney, e
o inédito prêmio de melhor banco de
investimento no Brasil para o Bradesco
BBI, Trabuco reconhece que o ritmo
da economia tem afetado a expansão das
operações de crédito no País.
Como o senhor avalia
a percepção internacional sobre o Brasil? Melhorou nos últimos meses?
Luiz Carlos Trabuco – Penso que o
Banco Central mostrou que continua com o radar
focado no controle da inflação e
isso foi bem aceito entre os investidores. O Brasil tem exibido consistência
macroeconômica e, agora, há expectativa no mercado de que o País faça uma
profissão de fé para o futuro e passe a mostrar mais investimento privado e
crescimento da economia.
E as eleições afetam
essa melhora da percepção?
– Seja com um eventual segundo
mandato da presidente Dilma Rousseff ou com um novo governo, acredito que
haverá um melhor balanceamento entre o consumo e o investimento para reativar a
economia.
Os programas de concessão serviram
para medir o interesse e os retornos. Acho que
esse direcional não pode ser
perdido de perspectiva. O consumo ainda tem espaço muito forte de crescimento
pelas carências das pessoas e da população, mas o drive do crescimento será o
investimento.
Para termos mais
investimento é essencial o tripé macroeconômico com câmbio flutuante, meta de
inflação e política fiscal responsável?
– O câmbio flutuante e a inflação
sob controle dão o norte de que o País quer equilíbrio.
Penso que a política fiscal e a
política monetária são dois pilares que não dá para
descuidar. Poucos países têm como o
Brasil uma carência de infraestrutura derivada da necessidade do setor
produtivo. Completar essa infraestrutura dá motivação aos investidores e aos
empresários.
O senhor tem
conversado com as forças políticas que tentarão as eleições presidenciais? Há
comprometimento macroeconômico entre os candidatos?
– Não temos nenhuma audiência
específica, mas os candidatos colocados, inclusive a
presidente Dilma, têm demonstrado
confiança de que o Brasil tem futuro. No começo do ano, os mercados exageraram
um pouco na visão pessimista com o Brasil, o que acabou batendo no valor dos
ativos. Os nossos fundamentos são bons, mas temos de realizar. O País tem de demonstrar
capacidade de entrega como nunca antes observado. O mundo tem pressa e o Brasil
tem espaço na disputa pelos investimentos. Mas o mundo também quer ver nossa
capacidade de entrega. As coisas têm de ser entregues.
A economia já sofreu
no passado com a disputa presidencial. As eleições continuam um ônus para a
economia?
– A ausência de democracia sempre
foi um ônus que a sociedade pagou nos preços ou no clima político e
institucional. Hoje, a democracia brasileira é um bônus que o País tem.
O Bradesco mantém uma
participação minoritária no Banco Espírito Santo em Portugal.
Como a casa acompanha
os problemas no banco português? Os senhores já solicitaram explicações aos
sócios?
– Temos pouco mais de 3% do capital
do BES. Essa é uma posição construída como parte do relacionamento e do
pagamento quando compramos o Banco Boa Vista há muitos anos. Esse banco era
controlado pelo Credit Agricole e pelo Espírito Santo. Essa é uma participação
pequena, que não tem relevância no nosso portfólio e nós não temos presença na
administração nem no conselho. Então, não temos nenhuma informação fora as
recebidas pela mídia. Evidente que as informações que estão na mídia significam
que estamos vivendo um período de definições, de modificação. Mas nós somos
expectadores à distância.
Então não há nenhuma
ação tomada pelo Bradesco no caso?
– Nenhuma porque não temos
administração, não temos gestão, nem presença no Conselho de Administração (do
BES). Essa participação só é derivada da compra do Boa Vista. Hoje, nossa
vocação como banco de varejo é exclusivamente brasileira, dentro do território
nacional. Nós olhamos o mundo da ótica brasileira do banco de investimento, do
banco corporativo, do private banking e do asset management com uma estratégia
bem definida. Fora do Brasil, nós não temos necessidade com essa estratégia de
ter associação com nenhuma outra casa.
Nos últimos anos, o
mercado ouviu vários boatos envolvendo supostas conversas entre o Bradesco e o
Santander. O Bradesco sempre negou, mas por que ouvimos tantos rumores?
– Esse caso que você cita carece de
qualquer fundamento. Nunca existiu e não existe nenhuma conversa a esse
respeito. É evidente que o fato de o Bradesco ter uma posição importante no
Brasil e uma presença hegemônica no território nacional faz com que qualquer movimento
mire no nosso caso. Agora, a estratégia da nossa organização foi definida e
está sendo perseguida: nós queremos ser um banco de cobertura nacional. São
rumores que não procedem.
Ou seja, não são
necessárias novas peças diante do objetivo estabelecido pelos controladores de
que o Bradesco seja um banco nacional.
– É isso. Não precisamos de mais
peças. Nesta montagem que é o sistema financeiro brasileiro, a composição que,
a grosso modo, tem dois bancos públicos federais, dois bancos privados
nacionais e dois bancos estrangeiros vai continuar nos próximos anos. Não
existe apetite de bancos internacionais para investir fora de seus países de
origem até porque os requerimentos de capital inibem casas bancárias a fazer
investimentos fora de seus países de origem. Então, aquela visão que tínhamos
no começo do século de bancos globais foi revista a partir da crise de 2008. A
nossa configuração do sistema
bancário brasileiro está pronta e
acabada. Há dezenas de bancos de nicho, mas os bancos que exercem uma função
clássica de cobertura nacional são esses seis que estão disponíveis. Todos
esses bancos possuem uma estrutura de capital bastante sólida, existe estrutura
patrimonial extremamente rígida com grande nível de solvência e margem de
alavancagem.
Uma notícia como essa é desprovida
de fundamento.
O Bradesco trabalha
com a previsão de que o crédito deve crescer entre 10% a 14% este ano. Mas
alguns analistas têm dito que os empréstimos têm crescido menos e os senhores
devem ficar mais próximos de 10%.
– Ainda não divulgamos o balanço de
junho.
Com aquilo que já é público, não
pretendemos fazer uma revisão do guidance. O sentimento é que o crédito no
nosso caso vai crescer mais na banda inferior do guidance. Não porque estejamos
com uma política de restrição ao crédito.
O crédito está totalmente aberto.
Nós temos campanhas de desenvolvimento do crédito em todos os segmentos, mas o Produto
Interno Bruto (PIB) não tem ajudado. Essa é uma velha discussão: se o crédito puxa
o PIB ou o PIB puxa o crédito. Qaundo se faz gestão de risco de crédito e o
crédito cresce exageradamente sem o PIB acompanhar, passamos a ter aumento do
risco. Nós não tivemos PIB muito favorável em 2013 e 2014. Mas, comparando com
o mundo, acho que até temos um desempenho bom.
Essa economia fraca
somada à inflação acima da meta e alguma acomodação no mercado de trabalho
podem bater na inadimplência?
– A inadimplência está estável.Dados
do Banco Central de maio mostram 0,1 ponto
(de alta na inadimplência) e isso
não significa que a inadimplência cresceu. Houve
uma mudança de rating mais agravado
para determinadas operações. A nossa visão
é que a inadimplência está controlada
até o fim do ano.
O julgamento dos
planos econômicos que deve ficar para 2015 no Supremo é uma vitória dos bancos?
– Não entenderia como uma vitória.
O julgamento tem relevância nas suas repercussões econômicas e os juízes estão
esgotando todas as possibilidades de aumentar o debate. Então, o que aconteceu não
foi o adiamento, foi uma expansão da consciência para debater o tema com a
sociedade. O debate vai decantando e dando aos julgadores uma visão ampliada.
Como a Copa afetou os
negócios do banco?
– A Copa não reflete de uma maneira
imediata na indústria financeira. O que você teve é que, com feriados e
expedientes reduzidos, houve maior exigência no atendimento bancário. O
atendimento fica mais concentrado. Mas o que é interessante é que houve
crescimento muito forte dos canais remotos, do banco digital. Na semana passada
em um dia com expediente reduzido, nós batemos o recorde e clientes fizeram 6,2
milhões transações pelo Bradesco Celular.
E o País sai
beneficiado pela organização do mundial?
– Acredito que o legado que a Copa
do Mundo deixa no Brasil é importante. Claro que se a gente for avaliar o
desempenho da seleção brasileira, acho que temos de olhar para trás com a
música ‘Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima’. Com relação ao evento,
um fato positivo é que o tivemos exposição de mídia, o que é excepcional. Isso
tem um preço
difícil de ser calculado. O retorno
da marca Brasil é um objetivo atingido. Outra coisa positiva é que o País se
incumbiu de fazer obras. Os estádios ficaram prontos e passam a ser equipamentos
urbanos. Houve algumas coisas que não foram entregues, mas obras de mobilidade urbana
ou infraestrutura foram planejadas e muitas
foram atendidas. Então, tem um
certo ganho. Poderia ter sido mais? Sim. Fica alguma lição? Sim e essa lição
tem de ser aprendida para a Olimpíada.
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