Preocupado com a persistência da inflação em
patamares mais altos, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom)
subiu nesta quarta-feira (2) a taxa básica de juros da economia brasileira pela
nona vez seguida. A Selic passou de 10,75% para 11% ao ano – uma alta de 0,25
ponto percentual, em linha com o consenso das apostas do mercado financeiro.
Com o novo aumento, os juros ficaram acima do
patamar vigente no início do governo Dilma Rousseff, em 2011 – quando estavam
em 10,75% ao ano. Assim, todo corte dos juros feito pelo BC no governo da
presidente (a taxa chegou à mínima histórica de 7,25% ao ano, entre outubro de
2012 e abril do ano passado) não só foi "devolvido", como superado. A
taxa Selic vem subindo desde abril de 2013.
A subida dos juros vai na contramão de uma das principais
marcas do governo Dilma Rousseff na área econômica: mesmo
defendendo o controle da inflação, a presidente destacou, por diversas
oportunidades nos últimos anos, a queda dos juros básicos, e também pressionou
os bancos a reduzirem suas taxas aos consumidores.
A expectativa dos economistas dos bancos é de que a
elevação dos juros de hoje não seja a última do ano. A previsão é de, pelo
menos, mais um aumento em 2014 – para 11,25% ao ano.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase:
"O Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em
0,25 p.p., para 11,00% a.a., sem viés. O Comitê irá monitorar a evolução do
cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos
passos na sua estratégia de política monetária".
Metas de inflação
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para 2014 e 2015, a meta central de inflação é de
4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou
para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja
formalmente descumprida.
Nos quatro últimos anos, o IPCA oscilou ao redor de
6% - distante da meta central de 4,5% e mais próximo do teto do sistema de
metas de 6,5%. Em 2010, a inflação somou 5,91%, passando para 6,5% em 2011,
para 5,84% em 2012 e para 5,91% no ano passado.
Para este ano, o Banco Central estimou, na semana
passada, por meio do relatório de inflação, que o IPCA fique entre 6,1% e 6,2%.
O valor é menor do que a expectativa do mercado financeiro, para quem a
inflação deverá somar 6,3% em 2014.
Inflação Resistente
No fim de março, o BC avaliou, por meio do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, que, apesar da "moderação observada na margem" (últimos resultados), a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses "contribui para que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava".
No fim de março, o BC avaliou, por meio do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, que, apesar da "moderação observada na margem" (últimos resultados), a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses "contribui para que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava".
O BC também avaliou que uma "fonte relevante
de risco para a inflação reside no comportamento das expectativas de inflação,
impactadas negativamente nos últimos meses
pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços e pelas incertezas que cercam a trajetória de preços com grande visibilidade, como o da gasolina e os
de alguns serviços públicos, como eletricidade".
pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços e pelas incertezas que cercam a trajetória de preços com grande visibilidade, como o da gasolina e os
de alguns serviços públicos, como eletricidade".
A autoridade monetária também subiu, no fim de
março, de 4,5% para 5% sua projeção para os chamados "preços
administrados" - que contemplam, entre outros, ônibus interestaduais,
energia elétrica residencial, água, planos
de saúde,
serviços farmacêuticos e telefonia e gasolina - neste ano. Em 2013, os preços
administrados subiram bem menos: 1,5%.
Para economistas, governo está preocupado com teto
de 6,5%
O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, observou que o Banco Central apontou, em seu último relatório de inflação, as consequências dos efeitos climáticos sobre os preços dos alimentos e da energia ao mesmo tempo que destacou os efeitos defasados da política monetária (alta dos juros) sobre a inflação.
O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, observou que o Banco Central apontou, em seu último relatório de inflação, as consequências dos efeitos climáticos sobre os preços dos alimentos e da energia ao mesmo tempo que destacou os efeitos defasados da política monetária (alta dos juros) sobre a inflação.
"Pressões inflacionárias decorrentes do setor
de serviços e do preço dos alimentos que podem contaminar as expectativas de
inflação exigirão uma política monetária contracionista [altas de juros] para
evitar que a inflação ultrapasse o teto da meta em 2014 [de 6,5% vigente no
sistema de metas]”, acrescentou o economista.
O coordenador do curso de Ciências Contábeis da
Faculdade Santa Marcelina (FASM), Reginaldo Gonçalves, também avaliou que o
governo está preocupado com a possibilidade de extrapolar a meta máxima de
inflação de 6,5% em 2014. Por isso, segundo ele, o Copom subiu novamente os
juros nesta quarta-feira.
Flavio Combat, da corretora Concórdia, observou que
o impacto negativo da estiagem deve continuar prejudicando a produção agrícola
nos próximos meses, diante do início do período seco - com condições climáticas
que podem ser até mais adversas. Avaliou ainda que, apesar da queda recente do
dólar, que favorece a dinâmica dos preços, a principal fonte de pressão por
alta do dólar continua vigente: a retirada gradual de estímulos monetários nos
Estados Unidos
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