quinta-feira, 3 de abril de 2014

Copom sobe juros para 11% ao ano, acima do nível do início do governo


Preocupado com a persistência da inflação em patamares mais altos, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) subiu nesta quarta-feira (2) a taxa básica de juros da economia brasileira pela nona vez seguida. A Selic passou de 10,75% para 11% ao ano – uma alta de 0,25 ponto percentual, em linha com o consenso das apostas do mercado financeiro.

Com o novo aumento, os juros ficaram acima do patamar vigente no início do governo Dilma Rousseff, em 2011 – quando estavam em 10,75% ao ano. Assim, todo corte dos juros feito pelo BC no governo da presidente (a taxa chegou à mínima histórica de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e abril do ano passado) não só foi "devolvido", como superado. A taxa Selic vem subindo desde abril de 2013.

 

A subida dos juros vai na contramão de uma das principais marcas do governo Dilma Rousseff na área econômica: mesmo defendendo o controle da inflação, a presidente destacou, por diversas oportunidades nos últimos anos, a queda dos juros básicos, e também pressionou os bancos a reduzirem suas taxas aos consumidores.

A expectativa dos economistas dos bancos é de que a elevação dos juros de hoje não seja a última do ano. A previsão é de, pelo menos, mais um aumento em 2014 – para 11,25% ao ano.

Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "O Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em 0,25 p.p., para 11,00% a.a., sem viés. O Comitê irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Metas de inflação
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para 2014 e 2015, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Nos quatro últimos anos, o IPCA oscilou ao redor de 6% - distante da meta central de 4,5% e mais próximo do teto do sistema de metas de 6,5%. Em 2010, a inflação somou 5,91%, passando para 6,5% em 2011, para 5,84% em 2012 e para 5,91% no ano passado.

Para este ano, o Banco Central estimou, na semana passada, por meio do relatório de inflação, que o IPCA fique entre 6,1% e 6,2%. O valor é menor do que a expectativa do mercado financeiro, para quem a inflação deverá somar 6,3% em 2014.

Inflação Resistente
No fim de março, o BC avaliou, por meio do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, que, apesar da "moderação observada na margem" (últimos resultados), a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses "contribui para que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava".

O BC também avaliou que uma "fonte relevante de risco para a inflação reside no comportamento das expectativas de inflação, impactadas negativamente nos últimos meses
pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços e pelas incertezas que cercam a trajetória de preços com grande visibilidade, como o da gasolina e os
de alguns serviços públicos, como eletricidade".

A autoridade monetária também subiu, no fim de março, de 4,5% para 5% sua projeção para os chamados "preços administrados" - que contemplam, entre outros, ônibus interestaduais, energia elétrica residencial, água, planos de saúdehttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, serviços farmacêuticos e telefonia e gasolina - neste ano. Em 2013, os preços administrados subiram bem menos: 1,5%.

Para economistas, governo está preocupado com teto de 6,5%
O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, observou que o Banco Central apontou, em seu último relatório de inflação, as consequências dos efeitos climáticos sobre os preços dos alimentos e da energia ao mesmo tempo que destacou os efeitos defasados da política monetária (alta dos juros) sobre a inflação.

"Pressões inflacionárias decorrentes do setor de serviços e do preço dos alimentos que podem contaminar as expectativas de inflação exigirão uma política monetária contracionista [altas de juros] para evitar que a inflação ultrapasse o teto da meta em 2014 [de 6,5% vigente no sistema de metas]”, acrescentou o economista.

O coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Reginaldo Gonçalves, também avaliou que o governo está preocupado com a possibilidade de extrapolar a meta máxima de inflação de 6,5% em 2014. Por isso, segundo ele, o Copom subiu novamente os juros nesta quarta-feira.

Flavio Combat, da corretora Concórdia, observou que o impacto negativo da estiagem deve continuar prejudicando a produção agrícola nos próximos meses, diante do início do período seco - com condições climáticas que podem ser até mais adversas. Avaliou ainda que, apesar da queda recente do dólar, que favorece a dinâmica dos preços, a principal fonte de pressão por alta do dólar continua vigente: a retirada gradual de estímulos monetários nos Estados Unidos

 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Alunos brasileiros ficam entre os piores em teste de raciocínio lógico


RIO - Os estudantes brasileiros têm sérias dificuldades para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. É o que mostram os resultados de um novo teste do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados nesta terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil ficou apenas com 38ª colocação entre os 44 países participantes.

É a primeira vez que a OCDE realiza este teste, que buscou avaliar mais as habilidades cognitivas dos estudantes do que seu conhecimento de conteúdo matemático. Participaram do exame cerca de 85 mil alunos, todos com 15 anos de idade. Os adolescentes de Cingapura e Coreia do Sul alcançaram as melhores pontuações nessa avaliação. Veja o ranking completo no final da reportagem.

“Os alunos de 15 anos com dificuldades para resolver problemas serão os adultos de amanhã lutando para encontrar ou manter um bom emprego", disse Andreas Schleicher, diretor interino de Educação da OCDE. "As autoridades e educadores devem rever seus sistemas de ensino e currículos para ajudar os estudantes a desenvolver suas habilidades para resolver problemas, cada vez mais necessárias nas economias atuais".

A OCDE é conhecida por divulgar, a cada três anos, os resultados gerais do Pisa, que, na sua última edição, em 2012, avaliou estudantes de 65 países com provas de matemática, ciência e leitura. Divulgados em dezembro do ano passado, os resultados desses exames mostraram uma realidade péssima para o Brasil. Apesar de uma melhora em matemática desde 2003, quando o Pisa começou, o país estava na 58ª posição, bem abaixo da média nas três disciplinas.

A prova de matemática do Pisa já mostrava as dificuldades dos alunos brasileiros com problemas que pediam raciocínio lógico e conhecimentos básicos da disciplina. Apenas 33% dos alunos de 15 anos do país conseguiram resolver questões com o grau de complexidade mais baixo. Para muitos especialistas, o problema está justamente nos problemas de leitura. A maioria dos nossos estudantes não consegue interpretar o enunciado da questão.

'Um alerta'

A diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, lamenta o baixo desempenho dos alunos brasileiros na avaliação, mas diz que os dados estão longe de surpreender.

- Estamos falando de jovens de 15 aos, que estão ou no Ensino Fundamental II ou no Ensino Médio. Pesquisas nossas mostram que, desse grupo, apenas 17% dos alunos chegam ao final do ano tendo aprendido o conteúdo adequado de matemática. Portanto, esse resultado não nos surpreende - avalia.

Para a diretora, o levantamento traz um sério alerta sobre o futuro "muito próximo" destes estudantes - que chegarão em breve ao mercado de trabalho. Priscila avalia que esses meninos não estão tendo seu direito à educação plenamente garantido no país. Outro fator grave, segundo a especialista, é o fato de a matemática ser ensinada em sala de aula totalmente descontextualizada da realidade dos alunos.

A análise do Todos pela Educação é de que o ensino, de uma vez por todas, deve servir para a vida do aluno e não apenas para o repasse de conteúdo. Ela ainda atribui ao Congresso Nacional grande parcela de responsabilidade pelos problemas no ensino específico da matemática.

- O Congresso foi aprovando a inclusão de outras disciplinas, sem que as escolas tivessem dado conta, sequer, daquelas básicas, como matemática e português.

Priscila Cruz ainda questiona a formação do professor de matemática no país e o tempo de permanência do aluno em sala de aula, que não passa de 3 horas/dia em média.

- Temos que melhorar a formação do professor. Para se ter ideia, no ensino fundamental II, apenas 35% dos professores da disciplina têm formação. E destes, muitos saem da faculdade sem preparo ou estratégias para aplicar a disciplina em sala de aula. Outro problema grave é esse pequeno período de permanência do aluno em sala. Acaba, claro, sobrando muito pouco tempo para a matemática.

Veja o ranking completo

1º - Cingapura, 562 pontos

2º - Coreia do Sul, 561

3º - Japão, 552

4º - China/Macau, 540

5º - China/Hong Kong, 540

6º - China/Xangai, 536

7º - China/Taipé, 534

8º - Canadá, 526

9º - Austrália, 523

10º - Finlândia, 523

11º - Reino Unido, 517

12º - Estônia, 515

13º - França, 511

14º - Holanda, 511

15º - Itália, 510

16º - República Tcheca, 509

17º - Alemanha, 509

18º - Estados Unidos, 508

19º - Bélgica, 508

20º - Áustria, 506

21º - Noruega, 503

22º - Irlanda, 498

23º - Dinamarca, 497

24º - Portugal, 494

25º - Suécia, 491

26º - Rússia, 489

27º - Eslováquia, 483

28º - Polônia, 481

29º - Espanha, 477

30º - Eslovênia, 476

31º - Sérvia, 473

32º - Croácia, 466

33º - Hungria, 459

34º - Turquia, 454

35º - Israel, 454

36º - Chile, 448

37º - Chipre, 445

38º - Brasil, 428

39º - Malásia, 422

40º - Emirados Árabes, 411

41º - Montenegro, 407

42º - Uruguai, 403

43º - Bulgária, 402

44º - Colômbia, 399

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segunda-feira, 31 de março de 2014

Ao menos 4 brasileiros são admitidos pela Universidade Harvard


Escolher em qual das universidades mais prestigiadas do mundo estudar é o novo desafio do estudante Víctor Domene, de 17 anos, morador de São Paulo. Ele foi aceito por Harvard, Yale, Columbia, Princeton, Duke, todas nos Estados Unidos, líderes de rankings de excelência – e ainda aguarda o resultado de Stanford. Víctor tem de se decidir, e se matricular, até o mês de maio.

O resultado da Universidade Harvard foi divulgado nesta quinta-feira (27). No total, foram admitidos 2.023 estudantes para graduação no mundo todo, 5,9% do total dos que aplicaram (34.295 pessoas). Foram pelo menos quatro brasileiros aprovados nesta etapa, além do estudante
Henrique Vaz, que teve o resultado anunciado em dezembro.

No
Brasilhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, Víctor também colecionou aprovações nas melhores instituições: passou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); foi o segundo no cursohttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png de engenharia elétrica na Universidade Federal do Rio de Janeirohttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png (UFRJ), pelo Sisu; e o sétimo na Poli, escola de engenharia da Universidade de São Paulo (USP). Não se matriculou em nenhuma porque o sonho mesmo era fazer faculdade no exterior.

 “Sempre quis estudar fora do Brasilhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, mas não sabia muito bem como. Quando era criança minha mãe perguntava o que queria ser quando crescesse e respondia: Bill Gates”, diz.

Nos Estados Unidos, pretende desfrutar da possibilidade de cursar disciplinas de cursos de diferentes áreas. “Quero ter a liberdade de estudar várias coisas. Quero me formar em ciência da computação, mas pretendi fazer aulas de economia, matemática e gosto de psicologia. Pretendo trabalhar com algo que ajude a impactar o
Brasilhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, tive muitas oportunidades e é justo retornar para a sociedade.”

A mãe de Víctor é dona de casa e o pai trabalhou como jornaleiro por muito anos – hoje é assistente administrativo em uma empresa. Os primeiros anos do ensino fundamental, ele cursou na rede pública, a partir do 5º ano migrou para a escola particular porque conseguiu uma bolsa de estudos por mérito. Víctor concluiu o ensino médio no Colégio Bandeirantes, como bolsista do Ismart, ONG que apoia talentos.

No histórico, o aluno tem, além de excelentes notas, medalhas em olimpíadas nacionais e paulistas de química, física e informática. Para ele, o forte da sua candidatura às vagas (o processo se chama application) foi a história de vida.

“Pude contar minha história de vida nas redações e acho que as minhas cartas de recomendações dos professores do Bandeirantes também ajudaram muito. Contei com a ajuda de muita gente.”

O brasileiro vai para Nova York, nos Estados Unidos, no início de abril a convite da Universidade Columbia, e durante a viagem também vai aproveitar para conhecer Princeton. Ele recebeu 100% de bolsa de estudos de todas a universidades em que foi aceito – só Harvard ainda não respondeu - por isso, a falta de condição financeira dos pais não vai ser problema para que ele estude fora do país.

Nos Estados Unidos, as bolsas são concedidas a partir da situação socioeconômica da família, e inclui despesas com mensalidade, hospedagem e alimentação.

Escola dos sonhos
O estudante Eduardo Miranda Cesar, de 18 anos, também reuniu uma lista invejável de aprovações. Nos Estados Unidos, ele foi aceito pela Universidade de Chicago, Northwestern, Pensilvânia, Princeton, Brown e Harvard. Ele ainda está na lista de espera de Duke. No Brasilhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, foi aprovado pela UFSCar e pela Unirio quando ainda cursava o segundo ano do ensino médio. Ao final do terceiro ano, passou na UnB e na USP.

Ele conta que seu principal interesse nas instituições americanas é a possibilidade de o aluno cursar dois anos da universidade antes de determinar em qual cursohttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png deseja se formar. “Lá eles valorizam muito essa exploração da vida acadêmica antes da escolha final do curso”, diz. A princípio, Eduardo pensa em se formar em economia ou em ciências da computação.

Em Harvard, poderia até optar por um double major, ou seja, titular-se nas duas áreas.
Agora, Eduardo aguarda as propostas de bolsa das universidades que o aprovaram. Ele explica que o processo de bolsa das universidades para as quais ele aplicou avaliam toda a situação financeira da família do candidato e determinam quanto de subsídio ele precisaria para concluir o
cursohttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png. Até agora, ele já recebeu uma oferta da Universidade de Chicago, que considerou razoável.

“Por mais que Harvard sempre tenha sido a minha escola dos sonhos, os resultados dos processos de bolsa vão contar, com certeza. No final das contas, nem fico muito preocupado porque todas são universidades dos sonhos”, diz.

Desde a quinta série, Eduardo estudou no Colégio Militar de Brasília. “A gente tem muito orgulho do colégio militar porque lá eles tiram água de pedra. Por mais que seja uma escola pública, oferecem uma gama enorme de atividades extracurriculares. Eu tinha várias oportunidades: era da bandahttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, participava do grupo de filosofia e meu colégio sempre teve todo tipo de esporte. No segundo ano, eu e outros três ou quatro alunos criamos o clube de simulação das Nações Unidas”, conta.

Todas essas experiências, segundo ele, são muito valorizadas no processo seletivo das universidades americanas. Ele também contou com o apoio da Fundação Estudar, que tem tradição em orientar alunos brasileiros com interesse em estudar no exterior. Por meio da fundação, ele recebeu orientação de duas mentoras, brasileiras ex-alunas de Harvard e Pensilvânia. “Elas foram fundamentais no sentido de aproximação maior com as faculdades. Elas sabiam me falar qualquer coisa que eu quisesse saber sobre as universidades.”

Ele também recebeu orientação sobre o modelo de redação que deveria escrever em sua candidatura e teve seus documentos revistados antes de submetê-los às instituições.
Segundo Eduardo, seus pais sempre o apoiaram em seu sonho de estudar fora, mas também ficam “com o coração apertado” de saber que ele passará quatro anos fora do país. Já a namorada,
Larissa Guimarães, não está preocupada com a distância, já que ela também foi aprovada em uma universidade americana: a Universidade de Columbia

 

terça-feira, 25 de março de 2014

Batatas fritas em temperatura elevada aceleram envelhecimento

Os alimentos ricos em amido, como as batatas, quando cozidas a temperaturas superiores a 120°C geram uma reação química que origina produtos tóxicos que aceleram o envelhecimento. A informação foi divulgada pela Academia Nacional de Farmácia da França.
Esses alimentos, submetidos a altas temperaturas ocasionam um processo de glicação (soma entre uma proteína e carboidrato) avançada, conhecido como AGE, que pode acelerar o envelhecimento, segundo um estudo dirigido por Eric Boulanger, especialista em Biologia da Universidade de Lille 2.
As partes queimadas das batatas fritas e cozidas, assim como do pão tostado, as bolachas, o pão branco e o café, contêm acrilamida, um composto comprovadamente cancerígeno e neurotóxico em células animais, embora não em seres humanos.
Um recente estudo americano realizado em homens e animais mostra que esses produtos podem provocar no ser humano problemas de memória similares ao alzheimer. A partir dessa pesquisa, a equipe de Boulanger estabeleceu a existência de um vínculo entre esses produtos e o envelhecimento vascular, que causa maior rigidez nas artérias e hipertensão.
Para evitar consequências negativas, os pesquisadores franceses recomendam cozinhar os alimentos com água, vapor ou no micro-ondas, frente ao assado ou preparado na grelha.

As 10 melhores Universidades

 


USPSP
UFRJRJ
UFMGMG
UFRGSRS
UnicampSP
UnespSP
UFSCSC
UnBDF
UFPRPR
10ºUFPEPE

CONJUNTURA GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO


A renovada ameaça iraniana

             Nada melhor que as comemorações de Purim para analisar os efeitos da atual conjuntura internacional sobre os esforços iranianos para avançar, dissimuladamente, seu programa nuclear nada pacífico.

            Nas últimas semanas a situação na Ucrânia tem chamado a atenção de estrategistas ao redor do mundo, tanto por seu potencial bélico quanto pelas lições que dela podem ser aprendidas. Apesar disso, no Oriente Médio continua a guerra na Síria, agora entrando em seu terceiro ano e sem sinais de arrefecimento e o Irã, afastado do foco, manobra para consolidar seu programa nuclear.

            Não há por enquanto nenhuma resposta às perguntas que fizemos em nossa última análise: nenhuma instalação foi desativada, não houve comprometimento iraniano em relação às centrífugas, e não há qualquer  limitação ao programa de mísseis de longo alcance.

            A disputa na Ucrânia pode ter ainda outras consequências extra-regionais: se houver um posicionamento europeu e norte-americano muito duro frente à Rússia, esta poderia retaliar reabrindo as negociações com o Irã para o fornecimento de baterias de misseis S-300, a posse dos quais aumentaria significativamente o custo de uma ofensiva contra as instalações nucleares iranianas. E ainda que os russos tenham apoiado as sanções contra o Irã e se oponham a sua nuclearização, uma maior pressão contra a Rússia, especialmente econômica, poderia levar os russos a buscar uma compensação na venda de armas e equipamentos nucleares (um novo reator) ao Irã.

            Qual é então o teor da ameaça iraniana e quais são as opções de que dispõem os formuladores israelenses da politica de segurança nacional? Israel conseguiu gerar, ao longo dos últimos anos, a necessária reação internacional para combater o programa nuclear iraniano. As sanções impostas ao Irã são o reconhecimento, por parte das grandes potencias, de que o programa nuclear iraniano não era pacifico e os israelenses agiriam unilateralmente para interrompe-lo. Mas ao longo do ultimo ano os engajamentos norte-americanos levaram a uma flexibilização e à aceitação das posições menos hostis do novo presidente iraniano – o que dá folego ao Irã e renova a ameaça.

            A maior parte dos elementos não mudou:

  • O Irã continua a negar a Israel o direito à existência
  • Atua ao redor do mundo em uma campanha de de-legitimação.
  • Apoia abertamente grupos terroristas engajados na destruição de Israel e instituições judaicas
  • O Irã certamente já adquiriu a infraestrutura necessária para a produção de mais de uma bomba nuclear, e os meios para lançá-la.

            Quais seriam as consequências da obtenção por parte do Irã de tal capacidade?

  • Os Estados Unidos e as outras grandes potências teriam de enfrentar a nova capacidade de dissuasão do Irã, o que limitaria seriamente sua capacidade de intervenção.
  • Ainda que houvesse uma grande disparidade em relação ao poderio, Israel deixaria de ter o monopólio nuclear no Oriente Médio e sua capacidade ofensiva se reduziria dramaticamente.
  • O Irã atrairia inúmeros países-satélite  no Oriente Médio e na Ásia Central
  • O aumento do prestigio do governo fortaleceria o regime diminuindo as possiblidades de uma alternância promovida pela oposição.

            Há dois anos o ex-presidente Rafsanjani, (como o atual, considerado um moderado) declarou corretamente que Israel, dadas suas reduzidas dimensões, não poderia sobreviver nem a uma bomba, e uma paridade nuclear tornaria Israel muito mais vulnerável a uma longa guerra convencional de atrito. O apoio do Irã ao Hamas e outros grupos radicais que negam o direito de Israel à existência garantem também a inviabilidade de um acordo de paz com os palestinos; os acordos já assinados com o Egito e a Jordânia tiveram sua origem no reconhecimento de que Israel não poderia ser derrotado – realidade que o Irã tenta minar.

Até 2009 Israel promoveu uma política baseada em ações secretas, como o assassinato de cientistas iranianos e a introdução de vírus que comprometiam o movimento das centrifugas de enriquecimento de uranio.  E ainda que efetivo, o esforço não foi suficiente para interromper o programa, obrigando os israelenses a reiterar sua disposição de engajar-se unilateralmente em uma ação militar; somente isso levou a um maior envolvimento das grandes potências e a uma intensificação das sanções que agora estão sendo relaxadas.

No ultimo ano a discussão tornou-se publica em Israel,  com vários elementos apontando para os custos de uma ação militar contra o Irã. Mas o dilema de um Irã nuclear tem de ser enfrentado pelo conjunto de países liderados pelo grupo 5+1, alvos potenciais não somente de um Irã equipado com artefatos nucleares e foguetes, mas também aliado de organizações terroristas que tem buscado estes elementos para praticar atentados ao redor do globo.

Um Irã nuclear poderia paralisar a livre circulação marítima através do Golfo Persico, levando a um colapso da economia mundial, mesmo em uma era do pré-sal e da exploração das camadas de xisto nos Estados Unidos. Mas este também poderia ser o resultado de um ataque às instalações nucleares do Irã. Mas qual teria sido a possível reação do ocidente à invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, se Israel não tivesse bombardeado o reator de Osirak e Saddam Hussein tivesse obtido armas nucleares?

Um Irã nuclear levaria ainda a uma corrida armamentista em toda a região, com o provável fornecimento pelo Paquistão de armas nucleares para a Arábia Saudita e à nuclearização do Egito e da Turquia.

            Se as sanções não forem efetivas (especialmente num ambiente em que o preço do barril de petróleo ronda os 100 dólares) restam somente duas opções: um ataque às instalações iranianas, ou a aceitação do Irã como mais uma potência nuclear. A maioria dos especialistas concorda com a inviabilidade de um ataque, tanto em função de seu possível resultado parcial quanto de seu custo. Diferentemente do que ocorreu com o ataque ao reator iraquiano de Osirak em 1981, ou às supostas instalações nucleares da Síria em 2007, um ataque ao Irã não poderia eliminar o programa nuclear iraniano.

            A destruição do facilmente identificável reator em Busher somente causaria uma catástrofe ambiental, enquanto a maioria das instalações ligadas ao programa e dedicadas ao enriquecimento de urânio estão de alguma maneira protegidas, ou por terem sido construídos em áreas subterrâneas ou por terem localização ainda desconhecida. Assim, se um ataque israelense, norte-americano, ou conjunto pudesse fazer retroceder em alguns anos o programa nuclear iraniano, certamente não poderia destruí-lo, e levaria a uma coesão da opinião pública iraniana que destruiria qualquer perspectiva de derrubada do atual governo. E o custo seria enorme: os iranianos certamente retaliariam contra as bases e tropas norte-americanas estacionadas no Golfo Pérsico, minariam o Estreito de Hormuz e utilizariam sua frota de lanchas de assalto e mísseis anti-navio, impedindo ou seriamente dificultando a passagem de petroleiros que transportam 40% do petróleo em circulação no mundo. A efetividade de tais mísseis ficou comprovada durante o conflito no Líbano em 2006, quando um navio israelense foi atingido, e seriamente danificado, por um míssil fornecido pelo Irã e lançado pelo Hizballah.

 

            Os “clientes” iranianos no Líbano e na Faixa de Gaza provavelmente se veriam obrigados a participar do confronto, utilizando seu arsenal de foguetes contra o território israelense, e Israel se veria numa situação extremamente vulnerável já que, seus aviões engajados no ataque ao Irã, não poderiam eliminar os mísseis de longo alcance de posse do Hizballah. Se no confronto de 2006 um milhão de moradores do norte de Israel abandonou suas casas, não é difícil imaginar o impacto  provável de mísseis atingindo bairros de grandes centros urbanos como Jerusalém e Tel Aviv.

 

Aparentemente há poucas opções de utilização de hard power, a não ser que os israelenses identifiquem avanços significativos no programa nuclear iraniano, aliados a uma percepção de que um Irã nuclear possa representar uma ameaça existencial a Israel. Caso contrário, um Irã tornado invulnerável como potencia nuclear representará muito mais uma ameaça aos interesses norte-americanos na região, exigindo dos Estados Unidos a expansão de seu guarda-chuva nuclear ou a aceitação de uma nova corrida armamentista nos moldes do início da Guerra Fria, com todas as implicações de sua instabilidade.

 

O atual governo israelense tem de tomar decisões difíceis, que certamente comprometerão o futuro do país, e não é surpreendente que se mova com tanta cautela em relação aos palestinos e aos sacrifícios que tem sido exigidos de sua parte para um avanço das negociações.
 
Samuel Feldberg