sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Check Up

Meu idoso primo Tonico estava ótimo de saúde, até que sua esposa, por precaução, disse:
-Tonico, você tem quase 70 anos, está na hora de fazer um check-up com o médico.
- Para quê, estou me sentindo muito bem!
- Porque a prevenção deve ser feita agora, quando você ainda se sente saudavel!

Então meu primo foi ver um médico, o qual sabiamente, mandou-o fazer
testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.

Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam excelentes,
mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. Então receitou:
- Comprimidos Atorvastatina para o colesterol
- Losartan para o coração e hipertensão,
- Metformina para evitar diabetes,
- Polivitaminas para aumentar as defesas.
- Norvastatina para a pressão,
- Desloratadina em alergia.
Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou
- Omeprazol e um diurético para os inchaços.

Meu primo foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em
várias caixas requintadas de cores sortidas.
Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes
para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o
estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das
refeições, voltou ao médico. Este lhe deu uma caixinha com várias divisões,
mas achou que titio estava tenso e algo contrariado.
Receitou-lhe, então:
-  Alprazolam e Sucedal para dormir.

Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico
e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio,
enquanto eles aplaudiam.
Meu primo foi em vez de melhorar, foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saia mais
de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar todas aquelas pílulas.

Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava,
deu-lhe:
um cartão de "Cliente Preferencial",
um termômetro,
um frasco estéril para análise de urina e
lápis com o logotipo da farmácia.
Um dia meu primo deu azar e pegou um resfriado. Sua mulher, como de costume,
fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o
médico. Este disse que não era nada, mas em todo caso prescreveu:
- Tapsin para tomar durante o dia e
- Sanigrip com Efedrina para tomar à noite.
Como estava com uma pequena taquicardia, receitou:
-  Atenolol e um antibiótico,
- 1 g de Amoxicilina, a cada 12 horas, durante 10 días.

Apareceram fungos e herpes, e então ele receitou:
- Fluconol com Zovirax.

Para piorar a situação, Primo Tonico começou a ler as bulas de todos os
medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo de todas as:
contra-indicações,
advertências,
precauções,
reações adversas,
efeitos colaterais e
interacções médicas.

Leu coisas alarmantes, não só poderia morrer mas poderia ter também:
arritmias ventriculares,
sangramento anormal,
náuseas,
hipertensão,
insuficiência renal,
paralisia,
cólicas abdominais,
alterações do estado mental
e um monte de outras coisas desagradaveis.

Com medo de morrer, chamou o médico, o qual disse para não se preocupar com
essas coisas, porque os laboratórios só colocavam isso para se isentar de culpa.
”Calma, seu Tonico, não fique tão aflito”, disse médico, enquanto prescrevia uma
nova receita com um antidepressivo:
- Sertralina com Rivotril 100 mg.
E como titio estava com dor nas articulações deu:
- Diclofenac.

Nessa altura, sempre que o meu primo recebia a aposentadoria, ia direto para a
farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou um momento em que o dia do pobre Tonico não tinha horas
suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das
cápsulas para a insônia que haviam sido prescritas.
Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu.

No funeral tinha muita gente, mas quem mais chorava era o farmaceutico.
Agora a viúva diz que felizmente “mandou Tonico para o médico bem na hora,
porque se não, com certeza, ele já teria morrido antes”.





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