terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Jeito Carioca de ser


Carioca é um termo indígena, que significa casa do branco.

Revela também não só os que tiveram o privilégio de nascer na cidade mais linda

do mundo.

 Também são cariocas os que aqui vivem e incorporam meios e modos de ser, falar e agir. É um estado de espírito, possivelmente nascido quando os índios tamoios batizaram o rio que liga os altos do Cosme Velho à praia do Flamengo.

Passa, caprichoso, pela residência onde viveu por muitos anos o Dr.

Roberto Marinho. Quando recebia visitas, um dos seus prazeres era mostrar

o riozinho, cheio de carpas coloridas. Dizia, com muita convicção,

“aqui é o meu refúgio em meio à Mata Atlântica.”

Ari Barroso nasceu em Ubá, Minas Gerais. Viveu muitos anos no Rio e

incorporou o jeito carioca de ser, até quando exibia o falso mau-humor

com que gongava os calouros, no seu famoso programa de rádio. Onde

terá buscado inspiração para produzir o seu clássico “Aquarela do Brasil”?

A palavra malemolência (moleza, manha) é bem reveladora. E Pixinguinha,

com o seu inolvidável “Carinhoso”? Noel Rosa, cantor da Vila, como

hoje é o Martinho, não pode estar fora dessa lista, que inclui também o

Lamartine Babo. Quem melhor do que ele produziu marchas-rancho de

se tirar o chapéu? Aliás, o chapéu de palha ganhou nova dimensão no Rio, caracterizando a figura do bom malandro.

Em que outro lugar do mundo, reúnese número tão grande de competentes autores

populares? Querem um exemplo de hoje? Arlindo Cruz.

Talvez por questões da Natureza, do clima, do sol, sei lá, aqui há o maior número de bons compositores por metro quadrado.

 Alguém reclamará que não citei a dupla Tom e Vinícius.

Precisava?

Ah, o poetinha diplomata. Que falta ele nos faz, para viver a justa comemoração

dos seus primeiros 100 anos. Outra marca do bom carioca é a maneira

de falar. Já disseram que é a melhor do Brasil. O s chiado, o r carregado. Vocês já

viram o técnico Joel Santana falando inglês?

Está se preparando para a Olimpíada de 2016. Lembro do craque Ibrahim Sued,

na década de 1970, tentando falar no MAM com a Rainha Elizabeth: “I

see you in London.” A majestade apenas sorriu. O Ibrahim, feliz com a

façanha. Tem também os bordões do programa “Zorra Total”, dirigido

desde sempre por Maurício Sherman. Criou um jeito peculiar de falar,

que a Cidade depois repete sem parar.

E enterro de gente importante? Recordo do que aconteceu na ABL, em

19/02/1997, quando chegou o corpo do Darcy Ribeiro, um mineiro bem

carioca. Palmas de todo lado e uma cantoria que só acabou quando o corpo

foi trasladado para o mausoléu, no cemitério São João Batista.

Rio de Maracanã lotado para a apresentação de Frank Sinatra. Quase

200 mil pessoas. Choveu o dia todo, menos na hora do show. O Papa Francisco

(os cariocas chamam de Chico) disse aqui que Deus é brasileiro. Arrisco

mais: brasileiro e carioca. Ninguém, a não ser ele, poderia esculpir a

Cidade Maravilhosa e colocar, no seu estreito território, um povo tão especial.

Não é isso mermo?

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