Os hábitos alimentares inadequados, a falta de
atividade física e o
tabagismo estão fazendo
o exército de diabéticos
aumentar em proporções epidêmicas no Brasil.
O número de portadores da
doença no País já supera, inclusive, as previsões feitas há dois anos para
2030, quando se esperava ter, daqui a 27 anos, 12,7 milhões de diabéticos.
Enquanto em 2010 o total
de doentes era de 7,6 milhões, atualmente o cenário é bem pior: 13,4 milhões de
brasileiros já desenvolveram a doença, 90% deles com a forma adquirida do problema
que tem relação direta com o estilo de vida, o chamado
diabetes tipo 2.
Além de não relacionarem
as práticas saudáveis de alimentação e estilo de vida ao controle da doença, os
brasileiros seguem o caminho do esconhecimento.
A grande maioria, 87%,ainda
acredita que evitar muito açúcar é a principal forma de prevenção e 23% nem
mesmo fizeram algum teste na vida para
um diagnóstico.
Entre os que se arriscam
a classificar a doença,
um terço não sabe
identificar qual tipo de diabetes tem.
Os dados são da pesquisa
“Diabetes: mude seus hábitos”, que mostra a percepção dos brasileiros
sobre o impacto causado pela
doença e os seus riscos à saúde.
No estudo divulgado na terça-feira
pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(Ibope), 1.106 pessoas
foram entrevistadas em setembro nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte,
Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre.
Entre o universo, 9% das
pessoas se declararam diabéticas, número inferior à média nacional que é de
12%.
Entre o total de 1.106
pessoas entrevistadas, 48% tinham entre 18 e 39 anos; e 52%, acima de 40 anos.
Do universo ouvido, 46%
eram homens; e 54% mulheres. Em termos de escolaridade, 22%
dos entrevistados tinham
até a quarta série do ensino fundamental; 19% da quinta à oitava
série do ensino
fundamental; 38% do ensino médio; e 22% tinham ensino superior.
Com o cenário atual, o
Brasil saltou uma posição e passou de quinto para o quarto país do mundo em
número de diabéticos, atrás apenas da China (92,3
milhões), da Índia (62
milhões) e dos Estados Unidos (26,1 milhões).“
O diabetes está em
expansão no mundo todo. E a população doente pode ser ainda maior já que muitos
ainda não têm o diagnóstico”, afirma o
presidente da Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD), Balduino Tschiedel.
Ele alerta para a
necessidade de mudança de
vida tanto para quem tem
a doença, quanto para quem é saudável.
“As pessoas ainda não se
deram conta de que a mudança do estilo de vida é o grande instrumento
para prevenção e
controle”, diz.
Dados da SBD mostram esse
quadro. Pelo menos 80% dos diabéticos tipo 2 têm sobrepeso
ou obesidade.
Entre esses, apenas
26,8% estão com a doença
controlada. No tipo 1,
quando a enfermidade é detectada na infância ou na adolescência
por insuficiência na
produção de insulina, 10,4% mantêm os índices de glicose controlados.
É com o comportamento à
mesa e com o incentivo à malhação que a campanha quer trabalhar.
“Queremos chacoalhar as pessoas
para o fato de que atividade física regular, a alimentação
balanceada e a
interrupção do fumo são alguns dos fatores primordiais para prevenção
do diabetes”, garante o
vice- presidente da SBD, o endocrinologista Luiz Turatti.
De acordo com a
pesquisa, 72% dos entrevistados não relacionaram o tabagismo como um dos
fatores de risco para o diabetes ou mesmo para o agravamento da doença. E só
28% deles
fizeram ligação da
prática regular de atividade física com o controle da doença. A maioria deles
não pratica exercícios: 60% responderam não fazer ao
menos 30 minutos de
atividades físicas diárias, incluindo as atividades durante o tempo livre
ou no trabalho; 18%
garantiram praticar exercícios todos os dias da semana; 14% de uma
a três vezes; 7%, de
quatro a seis dias na semana.
Entre os 1.106
abordados, 41% estavam no seu peso ideal; 32% com sobrepeso; 19% no
quadro de obesidade (com
índice de massa corporal maior ou igual a 30); 1% abaixo do peso
ideal; 6% não souberam
responder aos dados de altura e peso; e 2% se recusaram a responder.
Os cálculos foram feitos
com base nas respostas autodeclaradas dos entrevistados.
Ao serem perguntados
sobre alimentação, um dado chamou a atenção na pesquisa: 47% dos entrevistados
responderam não ingerir frutas e vegetais diariamente.
Eles foram levados a lembrar
dos últimos sete dias, e quantas vezes se lembravam de ter consumido esses
alimentos, sendo que 4% responderam não
comer nem fruta nem
vegetal nenhum dia da semana. Conscientização De agora até dezembro, a campanha
vai levar informações
sobre diabetes em
aeroportos, estações de metrô e em pecas publicitárias em ônibus.
“Além de informar,
queremos desmitificar a doença e mostrar como é possível tratá-la com a
dobradinha medicamentos e vida saudável. Não é preciso
ter medo do diabetes e
sim saber conviver com o problema”, afirma Turatti.
Ao contratar a pesquisa
ao Ibope, a Sociedade Brasileira de Diabetes quis avaliar o quanto a
população de fato já
entende da doença, que atualmente mata mais que o trânsito e quatro vezes
mais que a Aids.
Entre 2000 e 2010, o
diabetes matou mais de 470 mil pessoas no País. Luiz Turatti chama atenção
ainda para a precocidade da doença.
“Entre os diabéticos, a
grande maioria está nas faixas acima de 40 anos. Mas, vale lembrar, que
esse cenário está
mudando rapidamente.
No Brasil, o número de
portadores de diabetes mais
jovens, dos 30 aos 40
anos, vem aumentando a cada ano”, afirma o endocrinologista.
* A repórter viajou a
convite da Sociedade Brasileira de Diabetes
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