Qualidade de vida e bons preços aumentam migração para as
vizinhas Maricá, Petrópolis e Teresópolis
Todos os dias, o
gestor da área de suprimentos de uma multinacional, Marcel Dilly, sai de sua
casa às 6h20 e leva pouco mais uma hora para chegar ao trabalho. Para retornar
no fim do dia, o mesmo tempo. Esta é uma rotina que pode soar comum para vários
moradores do Rio, exceto por um detalhe: ele mora em Teresópolis e vai e volta
todos os dias para São Gonçalo. Enquanto isso, na vizinha Itaipava, o advogado
Luiz Guilherme Barbosa, de segunda a quinta-feira, também vive no eixo Região
Serrana-Rio, encarando diariamente três horas de estrada. Aborrecimento com a
distância e o trânsito? Que nada! Eles garantem que não saem de onde estão. E
não são os únicos.
Assim como Dilly e
Barbosa, é cada vez maior o número de moradores que migram para cidades a mais
de 50 quilômetros de distância do Rio, até então voltadas principalmente para o
turismo. Os motivos são vários: melhor qualidade de vida, custo de moradia
menor e mais segurança. Nesta expansão estado adentro, os locais onde mais
crescem a procura e oferta são: Maricá, cerca de 50 km de distância da capital;
Mangaratiba (107 km); Teresópolis ( 97 km); Petrópolis ( 68 km), e Itaipava (94
km).
— Quando você começa a
subir a Serra, já consegue sentir outro clima. A estrada é linda, as pessoas
são prestativas e é tudo muito fácil. Compensa ir e voltar todos os dias porque
a atmosfera da cidade é outra. Não saio de onde estou no momento. Hoje vou e
volto, mas daqui a alguns anos, penso em só ficar por aqui — afirma Barbosa,
que desde que a sua esposa teve asma e o médico sugeriu uma temporada em
Itaipava, há cinco anos, trocou a residência em Ipanema pela casa, usada até
então apenas para as férias e finais de semana.
Já Dilly mudou-se de
Curitiba para o Rio há menos de um ano após uma proposta profissional. Poderia morar
tanto na capital, quanto em Niterói, mas, apesar dos 72 quilômetros entre sua
casa e o trabalho contra os 40 km de distância que gastaria se morasse na Zona
Sul, preferiu Teresópolis:
— Nunca nem pensei em
morar no Rio, até porque tenho um amigo que mora em Teresópolis e me sugeriu
vir para cá. Eu gosto deste clima de interior. As pessoas são tranquilas, a
violência é baixa. Onde moro há qualidade de vida, sem contar que o custo de
vida é bem mais baixo que na capital.
MAIS BARATO E
TRANQUILO
Uma situação ainda
comum é encontrar pessoas que compram imóveis para usar nos finais de semana e
que vão aumentando a permanência na serra, até estarem seguros das vantagens da
mudança. Outros são mais decididos e se mudam de uma vez. Um fator que pesa,
claro, é o valor dos imóveis. Enquanto o metro quadrado médio de Itaipava varia
de R$4 a R$ 5 mil, um apartamento de mesmo padrão em Botafogo, por exemplo,
custa entre R$ 10 mil e R$ 13 mil a metragem. José Eduardo Baeta, diretor de
incorporação da STR Incorporações Engenharia, afirma que Itaipava sempre foi
muito disputada:
— São pessoas que
geralmente querem sair da rotina de praia e entrar em contato com as montanhas.
Como tem uma boa infraestrutura de lazer e excelente gastronomia, é um local
muito procurado. Nosso primeiro empreendimento em Itaipava, em 2010, tinha 64
unidades e foi totalmente vendido em apenas três semanas após o lançamento. Por
isso, resolvemos investir de novo — diz Baeta.
A distância pode até
não incomodar, mas o tradicional congestionamento na chegada ao Rio na BR040,
Linha Vermelha ou Avenida Brasil em horário de pico não desanimam?
Profissionais liberais e os que possuem horários mais flexíveis ou trabalham no
modelo "home- office" levam boa vantagem pois conseguem fugir dos
horários como maior trânsito. Mas mesmo quem tem um horário mais rígido encara
este desafio com disposição. Segundo o diretor nacional de negócios da João
Fortes Engenharia, Jorge Rucas, o principal objetivo de quem troca a cidade
pelo interior é uma melhor qualidade de vida.
— Petrópolis começa a
despontar como mais uma área de expansão do Rio. A cidade já cresceu muito em
direção à Zona Oeste, mas atualmente há também um grande movimento no sentido
da serra, que naturalmente será ampliado com a duplicação do trecho da BR- 040,
e o tempo de viagem será reduzido. Hoje o deslocamento leva cerca de uma hora e
meia — pondera Rucas, que acrescenta: — Atualmente, o tempo para se locomover
entre os bairros da Zona Oeste e o Centro se equipara ou até ultrapassa o que
se leva entre Petrópolis e o Centro do Rio. Além disso, somam pontos a
segurança, educação, qualidade de vida e o valor do metro quadrado na região.
Tal demanda saltou aos
olhos do mercado imobiliário e tem gerado investimentos nestas áreas. Agora,
além de imóveis de veraneio, para moradores fixos. Bruno Serpa Pinto,
vice-presidente de operações da Brasil Brokers no Rio, conta que a empresa
percebeu este nicho quando lançou um residencial em Maricá e quase 20% dos
compradores eram de residentes do Rio.
— Fizemos um
lançamento cujo foco era oferecer imóveis de veraneio ou para moradores locais,
mas vimos que a procura de quem morava no Rio e queria residir lá era grande. E
não é só em Maricá. Tem muitas pessoas indo morar na Região dos Lagos, em Porto
Belo e Mangaratiba, assim como Teresópolis.
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